Império da Luz

imperio-da-luzIngresso picotado

No litoral sul inglês dos anos 1980, dois colegas de trabalho se conhecem e se ajudam em suas adversidades. De cores de pele, idades e hierarquias diferentes, muitas questões ficam pelo caminho, neste remendo de tópicos que pouco harmonizam entre si.

Apesar de se passar majoritariamente em um cinema, Império da Luz faz poucos acenos à sétima arte. Até o momento em que a sala de projeção é apresentada, em um momento avançado, a exploração do local se dá mais pela arquitetura e nostalgias alheias do que pela cultura cinéfila. Quando Norman descreve o funcionamento de um projetor, sua paixão é tão burocrática que é possível sentir a artificialidade. A protagonista ainda decide finalmente pegar uma sessão – na definição de fuga da realidade –, depois de um incidente muito grave, que ela tem dificuldade em lidar. Será que era a melhor saída? Que mensagem quiseram passar?

O romance, sem química para tal, pelo menos tira Hilary (Colman) de uma rotina de apatia e humilhações. No entanto, os problemas do imigrante Stephen (Ward) chamam mais atenção: em uma Inglaterra que o número de skin heads só cresce, o racismo e a xenofobia começam a virar rotina. Não que não tivesse antes, o que não justifica tanto a especificidade deste período, mas tudo passa pelo olhar da mulher branca. Começa com alienação e covardia; depois avança à revelação, apesar desta ser rasa demais e até constrangedora para valer a pena. O filme evita certas vias esperadas, como a publicização do relacionamento e suas consequências, preferindo destacar mais os sufocos da gerente do cinema Empire.

Não que o conteúdo acerca do passado de Hilary seja banal, mas ele corta abordagens que já estavam bem fragmentadas. Relembra ao público quem protagoniza e quem coadjuva, como se estivesse corrigindo uma rota que fugiu por acidente. Oliva Colman faz um belo trabalho de retração de voz e, às vezes, entrega incalculados momentos de humor sobre referências literárias. Micheal Ward é menos dilapidado; intriga as diferentes reações do personagem perante o meio, de comedido a precavido, chegando a não aceitar comportamentos danosos em certos contextos.

Império da Luz abre mão de diversas oportunidades – da convivência com o chefe assediador ao próprio amor ao cinema – para comentar, muito desajeitadamente, sobre racismo, registrando um aperto de mão constrangedor, em uma articulação muito ingênua, que lembra Green Book: O Guia. Somado à questão de outro personagem, apresenta um duelo de distúrbios que nada contribui ao conjunto.

Sem magia e articulações críticas potentes ao período, trata-se de uma obra que nunca chega ao topo, apesar de possuir todas as ferramentas para isso. Se a obra representasse o empreendimento daquelas salas de cinema, certamente fecharia em pouco tempo.

(Empire of Light, , 2022) Dirigido por Sam Mendes. Com: Olivia Colman, Micheal Ward, Colin Firth, Toby Jones, Tom Brooke, Tanya Moodie.

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